Você conhece a doutrina da não resistência? Você a pratica em sua vida diária? É uma doutrina bíblica baseada em Mateus 5:39-48 e outras passagens do Novo Testamento. Uma das melhores maneiras de explicar uma doutrina é por meio da prática.

Note os seguintes exemplos de não resistência.

O esposo irado

Airmã Maria sentia que já não aguentava mais. Ela estava lavando os pratos e seu marido estava atrás dela caminhando de um lado para o outro, com raiva. Com voz áspera, criticava-a e insultava a sua igreja.

— E você, por que não diz nada? — gritou.

Maria sentia que ia explodir. Sentiu vontade de se voltar e, gritando, jogar-lhe na cara todos os seus erros e reclamar pela vida angustiosa que lhe dava. Porém, nesse instante, lembrou-se das palavras de Jesus: “Não resistais ao mal”. E embora o esposo continuasse gritando, ela já não o escutava porque tinha começado a orar em silêncio: “Senhor, ajuda-me. Quero fazer o que tu farias nesta situação”. De repente, veio-lhe outro trecho bíblico à mente: “bendizei os que vos maldizem, fazei bem aos que vos odeiam” (Mateus 5:44). Voltou-se, puxou uma cadeira e disse a seu esposo:

— Amor, por que você não senta?

Foi à geladeira e pegou um copo de leite e um pão.

— Descanse e refresque-se. Você está muito preocupado.

Quando ela voltou a seus afazeres, tudo estava em silêncio. Maria sentiu que seu esposo olhava para ela surpreso e humilhado. Contudo, ela começou a cantar.

O roubo da novilha

— Papai, papai, roubaram a novilha!

O pai saiu preocupado.

— Por que você diz isso, filho?

— Venha e veja. Alguém cortou a corda.

— Você tem razão, filho. Quem será que quis nos fazer mal?

Com tristeza, o pai se lembrou de todo o esforço que tinha feito para comprá-la. Pensava que finalmente a havia conseguido e que teriam o leite para a família. Mas agora, toda sua esperança desapareceu.

— Papai, vamos chamar a polícia imediatamente para que punam o ladrão e o obriguem a devolver a novilha.

— Não, filho. Eu também sinto muito, mas Deus se encarregará disso. A Bíblia diz: “Não vos vingueis a vós mesmos… Minha é a vingança; eu recompensarei, diz o Senhor” (Romanos 12:19). A Bíblia nos manda orar pelos que nos fazem mal. Oremos neste momento, filho.

Os dois sentiam profundamente a perda da querida novilha. No entanto, ali inclinaram seus rostos e o papai orou pelo malfeitor.

A vizinha mentirosa

Isidro e Maritza eram recém-casados e queriam estabelecer um lar cristão. Eles tentavam fazer amizade com seus vizinhos e testemunhar de sua fé quando surgia a oportunidade.

Um jovem vizinho mostrava certo interesse na fé e fazia perguntas. Porém, a sua mãe era totalmente contrária. Ela estava muito zangada por causa da influência de seus novos vizinhos sobre seu filho e já não os cumprimentava mais. Para difamá-los, começou a espalhar fuxicos sobre o casal, dizendo às pessoas que eles brigavam muito e até que Isidro batia na Maritza e tinha uma amante.

— Ah, Maritza, como podemos dar um bom testemunho sobre Senhor se ela continuar com essas mentiras? Temos de pôr fim a isso. Às vezes, sinto desejos de ir e reclamar e lhe dizer que não seja tão mentirosa. Mas algo me diz que isso não seria o correto. O que devemos fazer?

— Eu tampouco acho que isso seria bom. O que Jesus faria neste caso?

— Boa pergunta. Neste momento, me lembrei do que Jesus disse: “Não resistais ao mal”.

— É isso mesmo que Jesus faria. O que a Bíblia diz sobre vencer o mal com o bem? Isidro foi pegar a sua Bíblia.

—Onde está esse versículo? Encontra-se em Romanos. Vamos ver; tenho marcado este versículo. Olha, aqui está. Romanos 12:20-21 diz: “Portanto, se o teu inimigo tiver fome, dá-lhe de comer; se tiver sede, dá-lhe de beber; porque, fazendo isto, amontoarás brasas de fogo sobre a sua cabeça. Não te deixes vencer do mal, mas vence o mal com o bem.”

— Que belo! Isso é o que Jesus faria.

— Sim, mas e nós, o que podemos fazer por ela?

— Bom, o versículo diz: “dá-lhe de comer”. Se pudéssemos lhe preparar algo.

— Boa ideia. Olha, Maritza, por que não preparamos umas empanadas?

— Sim, sim. Vamos fazê-las agora e amanhã as levamos para ela.

Contentes, começaram a preparer as empanadas e a fritá-las.

Pouco tempo depois, Isidro disse a sua esposa:

— Sabe de uma coisa, Maritza? Antes de ler este trecho da Bíblia, sentia-me amargurado pelo ressentimento e o ódio. Mas agora, me sinto cheio de gozo e liberdade. Sinto amor por ela.

As cabras na horta

Um dos vizinhos da família Murillo tinha duas cabras. Mantinha-as num cercado em mau estado. O pior de tudo era que esse vizinho não ficava em casa o dia todo e, portanto, não percebia quantas vezes as cabras escapavam. O senhor Murillo, com a ajuda de seus filhos, tinha plantado uma horta. Com frequência, as cabras do vizinho passavam para seu terreno e comiam as plantas de feijão, milho e pepino. Os rapazes tinham de correr atrás delas por muito tempo até fazê-las voltar ao cercado. Colocavam galhos na brecha da cerca, mas as cabras encontravam outra saída e voltavam a escapar. Os meninos achavam que passavam o tempo todo correndo atrás das cabras.

O pior era que o Sr. Murillo havia falado com seu vizinho acerca deste problema. O vizinho saiu para ver o cercado na manhã seguinte e também colocou uns galhos cobrindo algumas brechas. Tinha feito isto duas vezes e as cabras continuavam escapando e comendo o feijão e o milho. Uma noite, quando a família Murillo jantava, os filhos disseram ao pai:

— Papai, temos de fazer alguma coisa! Já estamos cansados de ficar correndo atrás das cabras do vizinho. Já comeram quase a metade da horta.

— Sim, pai. Seu Carlos nos disse que se matássemos uma cabra do vizinho, ele tomaria consciência sobre o assunto e consertaria a cerca.

— O que é isso, rapazes?! Vocês acham que isso seria do agrado de Deus?

— Talvez isso não, mas se pelo menos pudéssemos amarrá-las e deixar que passem fome até a tarde quando ele voltar para casa…

— Rapazes, Jesus nos diz: “Não resistais ao mal”. Em Romanos diz que devemos vencer o mal com o bem.

— Mas pai, como poderíamos fazer isso?

— Bom, o que devemos fazer pelo vizinho? Que favor poderíamos lhe fazer?

— O melhor seria consertar o cercado que as cabras danificaram — disse um dos seus filhos.

— Boa ideia, filho. Que tal se amanhã formos consertá-lo? Assim poderemos ajudar o nosso vizinho a resolver estes problemas e cumpriremos com o que Jesus nos manda.

— Sim, vamos!

No dia seguinte, o Sr. Murillo e seus filhos foram com as ferramentas e pregos para consertar o cercado. Trabalharam alegres e, quando terminaram, eles voltaram para casa animados. Um dos seus filhos disse:

— Isso foi bonito. Que surpresa terá o vizinho hoje à tarde!

— Sim — disse o pai, — na verdade foi uma bênção. Graças às cabras, aprendemos algo importante. É muito bom obedecer a Deus. É muito bom vencer o mal com o bem.

O fuzil ou a pá

Ovilarejo onde morava o irmão Humberto, encontrava-se ameaçado pelos ataques de guerrilheiros. As pessoas se reuniram e organizaram um plano de vigilância armada no qual participariam todos os homens durante todas as noites. O irmão Humberto sentiu-se afligido quando lhe comunicaram o novo plano. Ele sabia que participar de algo assim seria desobedecer ao mandamento de Jesus Cristo: “Não resistais ao mal”. Ele sabia que biblicamente era incorreto tomar as armas e matar o próximo. Como era possível amar o inimigo e ao mesmo tempo feri-lo? Humberto orou acerca do assunto durante dois dias e depois foi falar com o prefeito do vilarejo.

O prefeito, ao ouvir as palavras do irmão Humberto, insistiu em que todos os homens tinham de ajudar. Com mansidão, Humberto disse-lhe novamente que, com base em sua fé, não poderia. O prefeito se enfureceu e, gritando, o chamou de covarde e ameaçou prendê-lo. Humberto escutou em silêncio; logo lhe agradeceu e foi embora para sua casa, orando enquanto caminhava.

Quando foi a sua vez, mandaram chamá-lo. Humberto se apresentou e lhes disse que por obediência a Jesus Cristo não poderia participar. Então, levaram-no imediatamente para a prisão. Depois de ter passado uma noite difícil, tiraram-no da prisão para ameaçá-lo e zombarem de sua fé. Porém, ele lhes disse que poderia servir a comunidade com muito prazer, mas de outra maneira. Após varias ameaças e zombaria, eles aceitaram que ele limpasse o esgoto do vilarejo por onde passavam os dejetos e todo tipo de sujeira.

No dia seguinte, Humberto estava trabalhando no esgoto e sua roupa fedia. O trabalho era difícil e nojento e ele sabia que não iria receber nada por isso e nem lhe agradeceriam. Entretanto, fazia-o com alegria porque sabia que por causa de Jesus empregava a pá ao invés do fuzil.

O inimigo vencido

Rodrigo Madrigal tornou-se cristão. Porém, todos o conheciam como machista e briguento. Contudo, o Espírito de Deus o tinha constrangido e entregou-se ao Senhor. Houve uma mudança bastante significativa nele. Ao invés de ser rude e carrancudo, era manso e humilde e seu rosto refletia um gozo profundo. Todo o vilarejo comentava essas boas novas e a notícia incrível.

Rodrigo tinha pendências com algumas pessoas que havia prejudicado e desejava começar pela restituição, que era o mais difícil. Ele e Ignácio eram inimigos mortais havia muitos anos. Certa vez, Rodrigo disse que preferiria matar Ignácio a lhe dirigir uma palavra. Entretanto, agora teria de lhe pedir perdão. Ele estava ciente de que Ignácio era capaz de querer lhe fazer algum mal visto portar uma pistola assim como ele também o fazia anteriormente. Mas, Rodrigo queria ter paz com Deus e com os homens.

Depois de orar com o pastor, foi procurar Ignácio. Quando o viu frente ao bar junto com seu cavalo alazão, Rodrigo sentiu que suas pernas tremiam. Contudo, disse em pensamento: “Senhor, ajuda-me”, e caminhou em direção a seu inimigo.

— Boa tarde, Ignácio.

Ignácio voltou-se desconfiado, mas não disse nada.

— Ignácio, há uns dias me entreguei a Cristo. Quero lhe pedir perdão pelas muitas ofensas que eu lhe dirigi. Quero ser seu amigo.

Ignácio olhou para ele uns instantes, depois começou a proferir maldições e gritou:

— Idiota covarde! Vou por acaso acreditar que você vai mudar? Rodrigo um religioso, imagine! Isso é pura hipocrisia. Eu deveria lhe meter um tiro — ao acabar de dizer isso, deu-lhe um soco no rosto.

Rodrigo sentiu que o sangue lhe fervia. Sentiu-se impulsionado a brigar em sua defesa. Entretanto, lembrou-se das palavras de Jesus que o pastor lhe havia lido antes: “mas, se qualquer te bater na face direita, oferece-lhe também a outra.” Embora seu rosto estivesse ardendo, Rodrigo orou em silêncio: “Senhor, ajuda-me. Tu sabes que quero ser teu filho. Por favor, ajuda-me.” De repente, sentiu pena pelo seu inimigo e disse-lhe com uma voz suave:

— Sim, Ignácio. Fui um idiota e um covarde. Porém, agora sinto que quero ser um homem de Deus. Por isso venho lhe pedir perdão. Por favor, perdoemo-nos. Está na hora de buscarmos a Deus.

As palavras suaves provocaram um impacto muito estranho em Ignácio. Seu rosto refletiu confusão e humilhação. Notava-se que não sabia o que dizer.

— Tá bom, tá bom — gaguejou, — digamos que sim... tá bom. Eu não... eu não sei de que você está me falando... mas tudo bem, tudo bem. Esqueçamos o passado.

— Obrigado, Ignácio — disse Rodrigo enquanto estendia-lhe a mão. — De hoje em diante serei seu amigo e estou para servi-lo.

Todos os que estavam presentes ficaram boquiabertos ao verem os dois se apertarem as mãos para se despedir. A partir desse momento, todos diziam: “Rodrigo se converteu de verdade”.

* * * * *

A prática da não resistência é possível somente com a ajuda do Espírito Santo. Somente aquele que for guiado pelo Espírito pode retribuir o mal com o bem. Jesus foi o exemplo perfeito da não resistência e ele nos capacita a seguirmos seus passos.

Não há testemunho mais notável do que aquele que uma pessoa ame o malfeitor fazendo-lhe o bem. Como nós precisamos desse testemunho hoje em dia! Que o Senhor nos ajude a praticá-lo. 

语言

Portuguese

作者

Marcos Yoder

出版社

Editora Monte Sião

主题

不可抗拒