Bem-aventurados os mansos

O manso tem a oportunidade de herdar a vida e viver na cidade e na morada que nosso amante Salvador tem preparado. E assim como essa morada permanecerá diante de Deus, assim permanecerão os que não se rebelaram contra ele... os mansos.

Bem-aventurados os mansos, porque eles herdarão a terra” (Mateus 5:5).

Nessa manhã, no monte, enquanto tais palavras brotavam do coração de Jesus, a multidão o ouvia atentamente. Pela primeira vez, ouviam palavras muito estranhas: “Bem-aventurados os pobres de espírito... bem-aventurados os que choram...”, e agora, “bem-aventurados os mansos”. O que esse novo rabi queria dizer? As pessoas daquela multidão tinham sido moldadas segundo as tradições de seus pais. Tradições como olho por olho e dente por dente; amarás a teu próximo e aborrecerás a teu inimigo. As pessoas na multidão tinham aprendido dos fariseus a buscar sua própria honra e a exibir suas boas obras como méritos diante dos homens. Para tais pessoas, esses ensinamentos que escutavam de Jesus agora pareciam muito estranhos.

O que Jesus quis dizer com “bem-aventurados os mansos?” A mansidão é uma disposição do espírito, primeiramente para com Deus e, em seguida, para com os homens. É a disposição de aceitar o trato de Deus conosco como bom, de maneira que não o questionamos nem resistimos.

Há numerosas escrituras que confirmam que a mansidão é uma virtude cristã elemental na obediência a Cristo (leia-se Efésios 4:1, 2 e Mateus 11:28-30). Vejamos mais amplamente o que implica a mansidão na vida do cristão.

Mansidão significa controle sobre os pensamentos, conduta e atitudes.

Pensemos no exemplo de um animal que foi domado de maneira que possa obedecer a ordens. Analisemos o exemplo de um boi ou um cavalo, e apreciemos a grande mudança que ocorre em seu comportamento sob a mão do domador. Quando o animal já amansado sente a corda cingir seu pescoço, imediatamente se detém e manifesta uma atitude de sossego. Embora desconheça o que o homem quer dele, e embora sofra interiormente um choque de vontades, ele estima como melhor ação estar quieto. Dessa maneira, entrega sua vontade à pessoa que tomou posse dele.

Provavelmente veremos no animal certo nervosismo: sua pele se contrai até os lugares onde comumente não se sacode. Talvez vejamos insegurança nos olhos e nas patas que se movem impulsivamente. Às vezes, podemos notar desconfiança; o animal se move de um lado a outro, e tem medo da mão que tenta acariciá-lo.

O animal amansado, embora sofra tais comoções internas, não foge. Pelo contrário, demonstra sujeição e sossego, entregando sua vontade e ações à vontade do que o domou.

Esse exemplo nos ensina que a mansidão não é o resultado da fraqueza ou incapacidade do animal. Na pessoa, a mansidão é o resultado de um poder espiritual que capacita o indivíduo para dominar e sujeitar seu próprio caráter e natureza que se levanta contra a vontade do outro. Tal poder capacita o homem para que refreie o desejo de exaltar sua própria pessoa.

A mansidão é um comportamento que nasce da humildade.

Para ser manso, é preciso de humildade em, pelo menos, dois aspectos:

Primeiro, preciso de humildade em meu conceito de mim mesmo. Refiro-me ao que considero que mereço, e ao grau de amor que tenho para mim mesmo.

O contrário do que foi dito no parágrafo anterior é o amor a Deus e às demais pessoas. Isso me leva a ser sensível às necessidades dos demais e a colocar as mãos à obra para prover para suas necessidades. Assim, disponho-me a servir-lhes, considerando os demais como superiores. Recordemos o ensinamento do lava-pés em João 13:1-17.

Em Romanos 12:3, o apóstolo Paulo nos insta a não ter um conceito mais alto de nós mesmos do que o que devemos ter. Por outro lado, nos aconselha que pensemos de nós mesmos com prudência, conforme a medida de fé que Deus repartiu a cada um. De certa forma, isso me insta a ter um juízo correto de mim mesmo. Como cidadãos do reino de Deus, ninguém é mais nem menos que outro. Todos participamos juntos como irmãos, como membros da família de Deus. Todos herdaremos as promessas em Cristo Jesus. Pela mansidão, as herdaremos!

Segundo, necessito de humildade no conceito que eu tenho de mim mesmo por causa dos bens materiais que possuo ou dos privilégios que desfruto.

Na igreja de Cristo, os bens materiais, os privilégios, ou origens sociais não devem causar distanciamentos entre irmãos. Cada pessoa é útil graças aos dons que Deus lhe deu por meio do Espírito. Ele é quem capacita cada um para a obra que deve fazer. Dessa maneira, a capacidade provém de Deus e não de nós mesmos, nem de nenhum homem ou organização.

Tudo o que temos e somos, incluindo todo nosso ser: espírito, alma e corpo, nós recebemos de Deus. Pensar e proceder assim também é humildade. E tal humildade nos levará a um comportamento manso que será recompensado com uma herança nos novos céus e nova terra (2 Pedro 2:13).

O apóstolo Paulo, em Filipenses 4:12-13, disse: “Em todas as coisas estou instruído, tanto a ter fartura, como a ter fome; tanto a ter abundância, como a padecer necessidade. Posso todas as coisas em Cristo que me fortalece.” Essa expressão comunica uma grande mensagem espiritual: Quer tenha ou não bens materiais ou privilégios, a capacidade para servir a Deus é a mesma. Nossa capacidade espiritual não depende dessas coisas, e sim, da vontade e providência Divina, e da disposição de nosso coração e atitudes. Assim a recebeu o apóstolo Paulo, e assim também operou. Assim como ele morreu com a confiança de que receberia a coroa da vida como herança, nós também a receberemos se permanecermos em Cristo.

O Senhor Jesus Cristo nos deixou um verdadeiro exemplo de mansidão.

Tal testemunho foi revelado ao apóstolo Paulo e escrito em Filipenses 2:5-8: “De sorte que haja em vós o mesmo sentimento que houve também em Cristo Jesus, que, sendo em forma de Deus, não teve por usurpação ser igual a Deus, Mas esvaziou-se a si mesmo, tomando a forma de servo, fazendo-se semelhante aos homens; e, achado na forma de homem, humilhou-se a si mesmo, sendo obediente até à morte, e morte de cruz.”

Vemos aqui dois aspectos mencionados anteriormente: Primeiro, Jesus não considerou o ser igual a Deus como usurpação. Dessa maneira, ele exaltou a Deus e nos mostrou sua humildade. Segundo, Jesus procurou o nosso bem a custa do seu próprio ao colocar-se na condição de homem para servir-nos, ajudar-nos e socorrer-nos. Ele não levou em consideração sua procedência, nem o que tinha, nem o que era. Além disso, testemunhou que sua capacidade provinha de Deus. Quanto Jesus não deixou para viver em humildade e mansidão! Como recompensa, ele herdou a glória eterna. Agora vive em glória, e estará conosco por toda a eternidade.

Alguns conselhos de Deus

O apóstolo Paulo também diz em Filipenses 2:3-4: “Nada façais. por contenda ou por vanglória, mas por humildade; cada um considere os outros superiores a si mesmo. Não atente cada um para o que é propriamente seu, mas cada qual também para o que é dos outros.” Podemos compreender que toda a glória que procuramos é vã. No entanto, não é vã a busca do bem do próximo e levar a glória a Deus. Portanto, exaltemos a Deus, estejamos atentos ao bem dos demais, tenhamos um conceito de nós mesmos de acordo com a fé, e consideremos os demais como superiores a nós mesmos. Fazendo isso, estaremos colocando em ação uma vida de mansidão.

O anterior tem suas recompensas. Em Jesus Cristo, temos um exemplo excelente de um homem manso que recebeu de Deus sua recompensa. “Por isso, também Deus o exaltou soberanamente, e lhe deu um nome que é sobre todo o nome; para que ao nome de Jesus se dobre todo o joelho dos que estão nos céus, e na terra, e debaixo da terra, e toda a língua confesse que Jesus Cristo é o Senhor, para glória de Deus Pai” (Filipenses 2:9-11). Deus também nos recompensará se seguirmos o exemplo de humildade e mansidão de Jesus.

A mansidão também é um fruto do Espírito. Capacita-nos a receber a Palavra em nossa vida (Tiago 1:21). Serve para ensinar a outros, a fim de restaurá-los de sua condição perdida e conduzi-los à salvação (Gálatas 6:1). Capacita-nos a suportar-nos com paciência uns aos outros (Efésios 4:2). É necessária para conseguir um testemunho de boa conduta (Tiago 3:13). E quando nos exigem razão da esperança que há em nós, a mansidão nos capacita para apresentar uma defesa eficaz (1 Pedro 3:15). Uma mulher pode mostrar mansidão através de seu caráter pacífico e amável, condição que lhe ajudará a ganhar seu marido para Cristo (1 Pedro 3:1). Deus é todo-poderoso, mas também faz seu trabalho através de nós.

Se alguém pensa que a vida cristã é impossível, saiba que Deus fortalece nossa vida interna para que resistamos às provas e permaneçamos firmes. A entrega da vontade à vontade de Deus, por sua vez, é o que possibilita que Deus possa fazer sua obra em nós. Aquele que ama a Deus vai querer ser cada vez mais manso.

Se somos crentes, sabemos que fomos resgatados por aquele que, sendo Deus, veio a terra em mansidão. Então, por que ter um conceito indevido de nós mesmos? Por que não deixar coisas insignificantes em troca dos privilégios celestiais que podemos herdar? O manso tem a oportunidade de herdar a vida e viver na cidade e na morada que nosso amante Salvador tem preparado. E assim como essa morada permanecerá diante de Deus, assim permanecerão os que não se rebelaram contra ele... os mansos.

Dettagli
Lingua
Portuguese
Autore
Byron de la Rosa
Editore
Editora Monte Sião
Argomenti

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