“Admoestando-nos uns aos outros; e tanto mais,
quanto vedes que se vai aproximando aquele dia”
(Hebreus 10:25).

A igreja primitiva crescia rapidamente. Embora seus inimigos procurassem destruí-la, muitas pessoas aderiam à fé em Jesus, formando assim novas congregações. As perseguições que os cristãos sofriam, ao contrário do que era de se esperar, pareciam avivar as chamas da fé. O apóstolo Paulo viajava de cidade em cidade, até em terras distantes, estabelecendo igrejas. Nada parecia ser capaz de deter a obra de Deus.

Entretanto, com o passar dos anos, os apóstolos começaram a advertir os crentes que, no futuro, tempos perigosos viriam. Seriam tempos de muita perseguição à igreja e apostasia nela. Paulo advertiu Timóteo, dizendo: “Os homens maus e enganadores irão de mal para pior” (2 Timóteo 3:13). Ele advertiu Tito que se levantariam falsos mestres “aos quais convém tapar a boca” (Tito 1:11).

O escritor de Hebreus também tratou do mesmo tema, alertando que muitos sofreriam pela causa de Cristo. Ele exortou os crentes com estas palavras: “Retenhamos firmes a confissão da nossa esperança (…) exortai-vos uns aos outros todos os dias, (…) tanto mais, quanto vedes que se vai aproximando aquele dia” (Hebreus 10:23; 3:13; 10:25).

Essas exortações e advertências perpetuaram-se entre os crentes fiéis nas gerações seguintes. Elas alertavam para difíceis provações que sobreviriam à igreja nos últimos tempos; admoestaram a manter viva a fé em tempos de paz e prosperidade. Sua mensagem era: “Vigiem e não vivam em prazeres. Edifiquem-se e exortem uns aos outros; ‘tanto mais, quanto vedes que se vai aproximando aquele dia’.” Vejamos o testemunho de alguns crentes que experimentaram na própria carne os perigos da apostasia.

Rutílio sofreu muitas torturas por sua firmeza à fé cristã. Por fim, em 210 d.C., ele foi condenado à morte. No livro Martyrs Mirror (Espelho dos mártires), lemos o testemunho de sua fidelidade. Ele havia comprado sua liberdade e tinha um certificado do tipo salvo-conduto. Sentia-se seguro e livre de ansiedade, acreditando que já estava salvo da morte. No entanto, anos mais tarde, foi preso novamente na África. Rutílio não recuou sequer um instante. Ele permaneceu fiel a Deus, embora sua fidelidade lhe trouxesse a sentença de morte. Depois de sofrer torturas, no momento de sua execução, Rutílio ergueu os olhos e deu graças a Deus por tê-lo guardado em fidelidade até ali, pois logo receberia sua recompensa.

Os crentes fiéis sofreram severas torturas durante os muitos períodos de perseguição que se levantaram nos primeiros séculos.

— Você não acha que é mais do que alguém pode suportar? — um irmão perguntou ao amigo, depois que este passou um dia de tortura nas mãos dos perseguidores.

— Sem dúvida, foi mais do que eu sozinho poderia suportar — respondeu o irmão —, mas “posso todas as coisas em Cristo que me fortalece”.

— Você não teve medo quando lhe proferiram a sentença de morte? — perguntaram a outro mártir fiel pouco antes de ser executado.

— Ah, não! — ele respondeu com alegria. — Durante muito tempo ansiei esse encontro com meu Salvador. Agora vejo que se aproxima o grande momento. Por que eu desejaria ficar nesta vida miserável, na qual, a qualquer momento, posso ser tentado a pecar? Não, meu amigo, toda a minha vida vivi para este momento!

— Você não ficou tentado a voltar atrás? — perguntaram a outro crente a quem foi oferecida a liberdade. Foi-lhe dada a oportunidade de voltar para casa a fim de cuidar da família que tanto necessitava dele. A condição para receber a liberdade era a negação da fé.

— O quê? Desistir do céu apenas para viver um pouco mais neste mundo miserável? — exclamou o cristão perplexo. — Jamais!

— E sua família? Você não se preocupa com sua esposa indefesa e com seus filhos?

— Claro, isso é uma grande preocupação para mim. Por isso, é meu dever nunca me render. Eles precisam de meu exemplo de firmeza até o fim, muito mais do que da minha presença em casa. Eu entreguei minha família nas mãos do Pai amoroso, que pode cuidar deles e suprir suas necessidades muito melhor do que eu poderia fazer.

— Não foi difícil suportar esses interrogatórios intermináveis de seus perseguidores? — outro lhe perguntou.

— Ah, não, o cansaço desses dias e noites valeu a pena em troca de poder testemunhar-lhes de Cristo. Como fiquei grato por toda a Escritura que memorizei e pelo conhecimento que preservei das doutrinas da Palavra de Deus. O Espírito trouxe essas coisas à minha mente no momento exato. Foi uma grande alegria compartilhá-las com meus perseguidores. Espero que uma semente brote neles.

— Você não ficou tentado a delatar seus irmãos para não sofrer mais torturas?

— Não, porque, ao fazer isso, eu teria me submetido a uma tortura mental muito maior. É mais fácil ficar calado e sofrer fisicamente nas mãos deles pelo amor de Deus que me constrange.

Havia períodos em que cessava a perseguição. Nesses tempos, a igreja desfrutava de descanso e começava a prosperar, tanto material quanto espiritualmente. Porém, na prosperidade, a tendência humana é negligenciar o espiritual, e os sintomas de apostasia eram claramente vistos na igreja. Uma vez mais, homens fiéis se levantaram com a exortação: “Tanto mais, quanto vedes que se vai aproximando aquele dia”.

Um crente fiel chamado Johannes falou à família e aos irmãos de sua congregação: “Nossa vida é apenas um vapor; não devemos viver como se sempre estaremos aqui, desfrutando desta vida relaxada”. Ele exortava a todos a viver de modo santo e a compartilhar a Palavra de Deus enquanto havia oportunidade.

Para muitos, Johannes nada mais era do que um alarmista. Eles não deram ouvidos a suas admoestações. O futuro lhes parecia promissor. No entanto, chegou o dia em que outra onda de perseguição atingiu as igrejas. Muitos não conseguiram permanecer fiéis diante de tão severo antagonismo contra a fé. Muitos apostataram. Uns poucos suportaram a prova, sofrendo até a morte.

No final do século 18, muitas famílias anabatistas de outros países da Europa, que foram perseguidas por causa da fé, fugiram para a Alemanha, onde encontraram liberdade religiosa em alguns lugares. Elas chegaram a sua nova terra com poucos bens materiais, mas eram diligentes e começaram a prosperar naquele ambiente de oportunidades.

Novamente, alguns começaram a clamar contra a corrupção e a apostasia que invadiam as igrejas. O clamor foi desconsiderado por aqueles cujos sentidos haviam sido embotados ao ponto de não ter percepção espiritual. Essa apostasia continuou até que emergiu outra grande perseguição. Uma vez mais, os crentes tiveram a liberdade religiosa negada e lhes foi imposto o serviço militar obrigatório.

Durante o mesmo período, muitos anabatistas emigraram para a Rússia, onde lhes foi concedida liberdade de culto. Lá eles cresceram muito, formando grandes colônias. No início do século 20, viviam em meio à abundância e a grandes oportunidades econômicas.

Homens fiéis se levantaram novamente, pregando sobre a apostasia e os “tempos perigosos” dos últimos dias. Eles exortavam a igreja a voltar aos fundamentos da fé verdadeira, “tanto mais, quanto vedes que se vai aproximando aquele dia”.

“Essas condições de paz podem mudar?”, perguntava-se o jovem Hans. Ele, junto com a família, deixou a Alemanha e mudou-se para a Rússia em busca de liberdade. (O mesmo havia sido feito por seus avós muitos anos antes, quando deixaram seu país natal, a Holanda, para viver na Alemanha.) Hans acreditava estar fora de perigo. Mas isso poderia mudar? Ao mesmo tempo, o jovem ouvia admoestações que despertaram nele um desejo ardente de viver mais perto de Deus. Ele se fortaleceu na Palavra e na oração. Não muito tempo depois, o fogo da perseguição invadiu repentinamente aquela terra.

Da noite para o dia, o jovem Hans passou de uma vida fácil para os campos de concentração soviéticos, onde teve de suportar sofrimentos indizíveis. Havia pouca oportunidade de ouvir a Palavra ali. Não havia comunhão com outros cristãos para lhe dar forças. Quão grato ele estava pela Palavra que havia guardado no coração. Ele necessitava de cada gota da força cristã que adquirira durante aqueles anos de oportunidade. Apesar da prova, Hans saiu vitorioso!

Hoje, novamente se ouve o clamor contra a apostasia que está invadindo as igrejas. “Vivemos em tempos perigosos, dias de prosperidade, oportunidades e prazer!” Como sempre, as pessoas que veem o perigo que ameaça a igreja são consideradas pela maioria alarmistas ou radicais.

Muitos hoje não estão dando ouvidos a esses alertas. Mas nós esperamos “a cidade que tem fundamentos, da qual o artífice e construtor é Deus (…) não deixando nossa mútua congregação, como é costume de alguns, antes admoestando-nos uns aos outros; e tanto mais, quanto vedes que se vai aproximando aquele dia” (Hebreus 11:10; 10:25).

— Anônimo

جزئیات
زبان
Portuguese
ناشر
Editora Monte Sião
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